Categoria: Gado de Leite

Tripanossomose bovina: O que é, transmissão, diagnóstico e tratamento

Data: 09/02/21

Autor: Thais Camargos

Os casos de tripanossomose vêm crescendo em todo o país. Entenda um pouco mais sobre a doença: quais os sinais clínicos, como é transmitida, as formas de diagnostico e como tratar. 

vaca com tripanossomose

O que é a tripanossomose bovina?

A tripanossomose bovina é uma doença causada pelo protozoário Trypanosoma vivax.

Também conhecida como tripanossomíase bovina, é uma enfermidade cuja ocorrência vem crescendo de maneira alarmante em todo o país e acomete rebanhos de leite e de corte.

No Brasil, casos da doença já foram reportados em vários estados, como Pará, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

A doença é responsável por inúmeros prejuízos financeiros, relacionados principalmente com a morte dos animais, abortos e queda na produção leiteira. Alguns pesquisadores relataram queda de 25% na produção de leite e mais de 45% na taxa de prenhez em alguns surtos da doença. 

Sinais clínicos

O principal sinal clínico da doença é uma anemia profunda e, por esta razão, pode ser confundida com outras parasitoses (anaplasmose, babesiose ou verminoses).

A anemia pode ser acompanhada por caquexia, que é um emagrecimento progressivo e acentuado. Também são relatados outros sintomas inespecíficos, como apatia, febre, linfadenopatia, e até mesmo alguma sintomatologia neurológica. 

Existem animais que podem se tornar assintomáticos, ou seja: são portadores do Trypanosoma vivax mas não apresentam sinais clínicos. Estes animais são uma fonte de infecção, podendo transmitir a doença para animais saudáveis dentro do rebanho. 

Além disso, quanto mais debilitado o hospedeiro, mais severa é a doença. Animais com problemas nutricionais ou sanitários, com doenças concomitantes, sofrem mais com a tripanossomose. 

vaca com tripanossomose

Como ocorre a transmissão da Tripanossomose bovina

Como o T. vivax é um hemoparasita, sua transmissão se dá principalmente pelo contato de um animal sadio com o sangue contaminado de outro animal.

Moscas hematófagas como os tabanídeos (mutucas), a mosca-dos-estábulos (Stomoxys sp.) e a mosca-dos-chifres (Haematobia irritans) ajudam na propagação do T. vivax.

Veja também: Parasitas em bovinos – Como fazer o controle estratégico parasitário do rebanho leiteiro

Objetos que favoreçam o contato com o sangue de animais infectados também possuem potencial de transmitir a doença. Este é o caso de materiais e instrumentos usados em cirurgias e procedimentos, como lâminas, agulhas, bisturis, entre outros.

Em fazendas leiteiras ainda é muito comum o uso de ocitocina durante a rotina de ordenha. Uma situação bastante comum é o reaproveitamento de agulhas e o uso compartilhado para vários animais.

Muitas vezes a justificativa para isso é a redução de custos, porém o que não é considerado é o fato de que o valor de um animal perdido para a tripanossomose é muito maior do que o preço a ser pago pelas agulhas e seringas descartáveis.

O uso de seringas individuais evita não apenas a transmissão de tripanossomose, mas de outras doenças como a leucose e a brucelose.

descarte de seringasUm animal infectado pode infectar vários animais sadios. Quando há mais de 20% dos animais infectados, considera-se que todo o rebanho está infectado, dada a rapidez da transmissão entre animais por seringas.

A entrada de novos animais na fazenda é a maior porta de entrada para a doença em um rebanho saudável. Animais só devem ser considerados livres da doença após realização de exames e, ainda assim, a quarentena é recomendada.

Imagine a seguinte situação…

Você, produtor de leite, decide comprar algumas vacas do seu vizinho. Você escolhe as mais bonitas e, obviamente, que aparentam estar mais saudáveis.

O que você não sabe é que essas vacas são portadoras do T. vivax!

O stress ocasionado pelo transporte e pela mudança de lote na fazenda pode provocar uma queda na imunidade, fazendo com que essas vacas passem a manifestar os sinais clínicos e apresentar uma parasitemia, que é quando o parasita está em circulação na corrente sanguínea.

Assim, as vacas bonitas que você comprou passam a ser fonte de infecção para as vacas sadias que você já tinha no seu rebanho. Viu como é importante garantir a procedência do gado? 

Quando um novo rebanho é infectado, a mortalidade pode ser baixa nos primeiros meses. Com o passar do tempo, novos animais vão se contaminando e começam a exibir mais sinais clínicos e a taxa de mortalidade pode aumentar.

Como fazer o diagnóstico da Tripanossomose bovina

A tripanossomose é uma doença de difícil diagnóstico por causa das peculiaridades do parasita.

trypanosoma

O tripanossoma possui uma capacidade de evasão do sistema imune, se alojando em locais fora da circulação sanguínea, como o humor aquoso (líquido presente nos olhos) e no líquor (líquido que protege o cérebro e o sistema nervoso).

O diagnóstico definitivo é baseado no exame clínico, em achados de necrópsia, associação de fatores de risco, histórico dos animais e exames laboratoriais (parasitológicos, sorológicos e moleculares).

Vamos entender um pouco da dinâmica da infecção

  • Fase aguda: no início da infecção temos as chamadas ondas parasitêmicas, ou picos de parasitemia. Nestes picos é mais fácil visualizar o parasita no esfregaço sanguíneo.

  • Fase crônica: depois de alguns dias de infecção a parasitemia cai. Isso nos dá duas opções de interpretação: o organismo está destruindo o parasita ou ele está saindo da circulação sanguínea e migrando para outros locais do organismo, “enganando” o sistema imunológico do hospedeiro.

Tipos de testes que podem ser realizados para o diagnóstico

  • Exames parasitológicos: são testes mais seguros, porém métodos que dependem da visualização do parasita no sangue nem sempre coincidem com a fase aguda da doença (fase de maior parasitemia). Exemplos: gota espessa, teste de Woo.
  • Exames sorológicos: são importantes para definir qual o nível de infecção dos rebanhos. Mas se os animais vêm sendo tratados, os exames podem indicar que os animais já foram infectados, não necessariamente que estão infectados no momento. Exemplos: RIFI, ELISA.
  • Exames moleculares: estes exames procuram pelo DNA do parasita e, se o resultado for positivo, quer dizer que o tripanossoma está presente. O ideal é que sejam associados a testes sorológicos. Exemplo: PCR.

Tratamento da Tripanossomose bovina

O plano de tratamento pode ser individual ou coletivo, onde todo o rebanho é tratado.

  • Tratamento individual: pode ser adotado em situações onde não existem evidências de que todo o rebanho esteja infectado. Pode ser indicado para animais vindo de outros rebanhos e animais de alto valor que estão infectados. Mesmo sendo tratados, esses animais devem ficar isolados do resto do rebanho.

  • Tratamento do rebanho: primeiro é necessário verificar o status da infecção e depois descobrir o percentual do rebanho que está infectado. O monitoramento durante o tratamento é importante para acompanhar a eficácia e para identificar animais potencialmente assintomáticos.

De maneira geral, as estratégias de tratamento só podem ser definidas após o diagnóstico feito por um médico veterinário.

6 Dicas para o controle e prevenção da Tripanossomose bovina

Confira as melhores dicas para manter o seu rebanho livre da tripanossomose bovina:

1- Desinfecção de agulhas

Utilize mais agulhas do que você precisa para fazer a vacinação. 

Ao vacinar um animal, coloque a agulha por um minuto em solução de álcool 70% ou clorexidine 1%. 

É importante respeitar o tempo de ação do produto e enxaguar o material desinfetante.

Confira outras dicas de desinfecção de agulhas e seringas clicando aqui

2- Controle de vetores

Normalmente, as instalações dos animais são ambientes ricos em umidade e matéria orgânica, fatores importantes para a manutenção do ciclo das moscas.

Por isso é importante adotar medidas como remoção das fezes, construção de uma esterqueira, uso concomitante de armadilhas para as moscas, entre outras ações.

3- Controle de helmintos e de carrapatos 

O uso de endectocidas para reduzir as infestações por estes parasitas é muito útil, pois assim reduz-se a probabilidade de contaminação por outras doenças e também a espoliação sanguínea.

4- Monitoramento do rebanho

Animais doentes, anêmicos, apáticos e que apresentam problemas reprodutivos já nos indicam que algo está errado e chamam a atenção para algum problema sanitário existente na fazenda.

5- Dosagem correta do medicamento

Nos casos de tratamento é imprescindível usar doses corretas para evitar resistência.

6- O melhor tratamento é a prevenção

Dê preferência para animais de reposição do próprio rebanho ou de fazendas com um rigoroso controle sanitário para evitar a introdução do Trypanosoma vivax na fazenda.

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    1 Comentário

    1. Eduardo

      Estamos a 8 anos no Para e faz 3 meses que temos uns 100 bezerros emagrecendo todos com menos de 280 kg Acima disso ainda nao tivemos problemas e ja morreram 9 Fizemos um 3 protocolos devido cd um dos 4 veterinarios q vieram nao souberam dizer o q era Por fim ultimo da CEVA e disse ser Tripanossoma Vamos fz coleta de sangue p enviar p fora pq aqui n tem laboratorio

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